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22/09/2022

Nova pesquisa Ipec 2021 revela: brasileiros reduzem, por vontade própria, consumo de carne e impactam estabelecimentos

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Um terço das pessoas já escolhe opções veganas em restaurantes e outros estabelecimentos – e quase metade opta por não comer carne um ou mais dias por semana.

 

Em fevereiro, a Sociedade Vegetariana Brasileira (SVB), encomendou uma pesquisa a ser feita  pelo  Ipec (Inteligência em Pesquisa e Consultoria — o antigo Ibope Inteligência aqui no Brasil), que pode ser acessada aqui. Constatou-se que em todas as regiões brasileiras e independente da faixa etária, 46% dos brasileiros já deixam de comer carne, por vontade própria, pelo menos uma vez na semana.

 

Entendo que seja um sinal claro da mudança de comportamento do brasileiro em relação ao consumo de carne, além de também revelar que existe uma oportunidade gigantesca para as marcas de alimentação que tiverem bons produtos veganos nos seus cardápios e portfólios.

Com isso, a oferta de restaurantes e lanchonetes com opções veganas tem aumentado rapidamente nos últimos anos buscando atender essa parcela significativa da população — de acordo com o Ipec, um terço dos brasileiros do Brasil todo busca opções veganas nos cardápios. Visando facilitar o acesso de todos que buscam por uma mudança alimentar, a SVB criou um mapa com milhares de endereços de estabelecimentos (www.ondetemopcaovegana.com.br), que é atualizado com novos locais diariamente.

 

Especialmente pensando na futura retomada dos restaurantes ao fim da pandemia de COVID, é muito importante que haja uma evolução de cardápios com uma maior variedade de produtos plant-based. Todos têm a ganhar com essa mudança, já que não apenas os restaurantes vão atrair essa enorme base de clientes evidenciada pelas pesquisas, mas também reduzir seus custos com alguns dos insumos mais caros, como carnes e queijos.

 

Ao contrário do que muitos podem pensar, para incluir pratos veganos no cardápio, os restaurantes não precisam fazer investimentos, comprar novos equipamentos ou aplicar novas técnicas. Podem optar por combinações simples e tradicionais, utilizando ingredientes facilmente disponíveis no restaurante. Dessa forma, é possível atender ao consumidor, que está cada vez mais consciente e ávido por algo que seja saboroso, faça bem ao planeta e seja acessível. E os estabelecimentos interessados em atender a essa demanda em crescimento podem contar, ainda, com a consultoria gratuita da equipe especializada da SVB: opcaovegana.svb.org.br.

 

Já podemos observar que o aumento do apetite do mercado por proteínas vegetais tem mobilizado os setores produtivos. O Brasil, que já produz anualmente 250 milhões de toneladas de grãos, tem transformado uma parte desses grãos em “carnes feitas à base de plantas”, convertendo o grão em produto final a uma alta eficiência, sem a onerosa taxa de conversão alimentar usualmente implicada quando se usa os grãos para alimentar animais de produção. Hoje, algumas das empresas mais atuantes no mercado global de carnes vegetais estão justamente aqui.

 

Além da proteína de soja, já amplamente utilizada como fonte de proteína vegetal em produtos análogos à carne, outras leguminosas vêm sendo exploradas — especialmente em outros países — como a ervilha e o tremoço. No Brasil, há um gargalo em relação a isso — uma lacuna, e também grande oportunidade de negócios — porque a diversificação da fonte de proteína (para além de apenas a soja) esbarra em importação e preços mais altos, como no caso da proteína de ervilha usada para fabricar as “carnes 2.0”. Alguns dos lançamentos mais recentes têm, inclusive, procurado usar a proteína de feijão dentro do blend que gera um nugget, um pedaço de “frango” ou um hambúrguer à base de plantas. Mas esse mercado, baseado na exploração comercial do brasileiríssimo feijão como fonte de proteína texturizada para foodtechs, está apenas começando.

 

O resultado dessa pesquisa do Ipec realizada agora em 2021 impressiona, mas em já 2018 a SVB havia encomendado desse mesmo instituto outra pesquisa que, na época, apontava que 14% dos brasileiros se consideravam vegetarianos, e que a maioria da população do país já estava disposta a escolher mais produtos veganos.

 

O que acontece é que, além da parcela vegetariana da população, cresce muito rapidamente a parcela que procura reduzir o seu consumo de carnes e derivados. Em um, dois, três ou vários dias por semana, os brasileiros têm optado por fazer refeições vegetarianas ou veganas — e pelos mais diversos motivos, como melhor qualidade de vida, consciência ambiental ou mesmo respeito aos animais. Uma parte desse universo (de 46% da população geral, independente da idade, segundo o Ipec) são os milhões de adeptos da “Segunda Sem Carne”, campanha mundialmente conhecida pelo seu embaixador Paul McCartney, mas com maior repercussão no Brasil. A proposta do movimento é convidar as pessoas a trocar, pelo menos uma vez por semana, a proteína animal pela proteína vegetal e a SVB já ajudou a levá-la a refeitórios corporativos, escolas particulares e públicas, restaurantes e outras organizações. Desde seu lançamento, em 2009, a organização já ajudou a servir mais de 300 milhões de refeições com fontes vegetais de proteína.

 

A ideia principal da campanha não é tirar algo do prato, mas, sim, acrescentar. Existe uma grande variedade de gêneros alimentícios produzidos pela agricultura familiar brasileira que ainda não estão sendo aproveitados por grande parte da população, e todos que começam a fazer a Segunda Sem Carne ou outro movimento semelhante ficam surpresos com as descobertas de novos sabores e novas combinações. O arroz e feijão perderam espaço no centro do prato do brasileiro ao longo dos últimos vinte anos, mas a valorização dos vegetais felizmente tem trazido uma retomada desse protagonismo.

 

Ricardo Laurino
Presidente
Sociedade Vegetariana Brasileira
Curitiba, 01 de agosto de 2021

 

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