Notícias

22/09/2022

Como uma dieta vegana pode afetar a sua inteligência: Ciência no combate a mitos.

Compartilhe

Quando afirmam que “a alimentação vegana é desprovida de alguns nutrientes que são importantes para o cérebro” evidencia-se claramente o não embasamento da matéria. É mais do que sabido e comprovado por estudos robustos que, embora veganos possam vir a consumir menos de alguns nutrientes e mais de outros, comparados aos onívoros, afirmar que a alimentação que exclui derivados animais seja desprovida de algum nutriente essencial à manutenção da saúde cerebral é vergonhoso.

 

Os animais não sintetizam de forma exclusiva nenhum nutriente essencial para os humanos. Entendam como essenciais nutrientes que não temos a capacidade de produzir de forma endógena (pelo nosso corpo), desta forma, TODOS os nutrientes que são obrigatórios que consumamos através da alimentação podem ser encontrados no reino vegetal. Os que não são essenciais são aqueles que nosso corpo tem a capacidade de sintetizar, ou seja, nós produzimos por auto-regulação de acordo com a nossa própria demanda fisiológica e metabólica. 

 

Sim, a inteligência é onerosa, gastamos muita energia para manter o funcionamento adequado do cérebro mas, caros leitores, basta o mínimo conhecimento da bioquímica humana para afirmarmos que o combustível oficial do cérebro é a GLICOSE proveniente dos carboidratos, amplamente fornecidos pelos amidos e açúcares encontrados de forma concentrada nos vegetais e praticamente zero disponível nas carnes, ovos e laticínios (sim, a lactose é um açúcar) e nosso cérebro tem sim um plano B energético, quando a glicose não está disponível: os corpos cetônicos que produzimos endogenamente quando estamos com nossos estoques de glicose muito baixos e queimamos nossa própria gordura para produzi-los. Além da glicose e dos corpos cetônicos, não existe outro “combustível” para o cérebro. A pergunta, em tom de deboche, no texto que pergunta se existe melhor alimento do que a carne animal para suprir enorme variedade de gorduras e aminoácidos que o cérebro NÃO PRECISA e vitaminas e minerais abundantemente encontrados nos vegetais, é infame e vexaminosa. 

 

Sim, o veganismo está crescendo no mundo inteiro, principalmente entre os jovens e populações que possuem melhor condição socioeconômica, o que está relacionado ao maior e melhor acesso à informação desencadeando maior senso crítico e incitando às responsabilidades para com o coletivo, leia-se: saúde pública, ética e sustentabilidade, que a consciência nos desperta e em teoria, nos impõe.

 

“Preocupações recentes com os déficits nutricionais das dietas a base de legumes e verduras gerou uma série de manchetes alarmantes” leia-se: especulativas, não embasadas e fundamentadas em mitos de que tais déficits pudessem retardar o desenvolvimento do cérebro de modo irreversível. Oras, apresente-nos somente um estudo de alto rigor científico que possa nos fornecer ao menos pistas de tais suposições. Estamos aguardando! 

 

Por que é mais uma vez vexaminoso apresentar a tal pesquisa realizada com 555 crianças em idade escolar no Quênia alimentada com 3 diferentes tipos de sopas que sabe-se lá do que era composta além da carne, leite e azeite respectivamente e “tirar conclusões” de que foi a carne adicionada à sopa de um dos grupos que os fez performar melhor em um teste de raciocínio verbal. Não se sabe se a sopa vegana era de água com chuchu ou água com batata, o que fica claro é que a carne pode ter aumentado o teor calórico e de alguns nutrientes da tal sopa e foi a adequação calórica e possivelmente nutritiva que melhorou o quadro nutricional de tais crianças podendo ter influenciado em suas performances cognitivas … e se no lugar da carne tivéssemos oferecido feijão e algumas sementes, qual seria o resultado? Pesquisas e estudos frágeis geram resultados pífios e vulneráveis. 

 

E mais uma vez temos afirmações irresponsáveis sobre nutrientes. Afirmar que “há vários nutrientes importantes para o cérebro que simplesmente não existem nas plantas ou fungos como cogumelos” dói e insulta quem usa seu tempo de vida para estudar e trabalhar de forma ética na área da saúde. 

 

Vamos lá! 

 

– Creatina, carnosina e taurina: três nutrientes que animais humanos e não humanos sintetizam endogenamente, portanto, temos disponível tanto quanto necessários para a performance cerebral e outras funções pelo simples fato que NÓS OS PRODUZIMOS. A matéria acertou em um ponto: não são encontrados em vegetais obviamente porque são sintetizados exclusivamente por animais e… lembrem-se: somos animais (temos pernas, não raízes!)

 

– EPA e DHA: 

Os ácidos graxos ômega 3 (W3) são considerados essenciais na dieta humana pois nosso corpo não consegue sintetizá-los diretamente. A mais abundante forma de se encontrar W3 na alimentação é na forma de ácido alfa linolênico (ALA), encontrado em alimentos como a linhaça, chia, soja, nozes, vegetais folhosos verdes escuros etc. O ALA, através de processos bioquímicos e enzimáticos (elongases e dessaturases) em nosso corpo é convertido em EPA e DHA, ácidos graxos que reconhecidamente são importantes para nossa saúde neurológica e estruturas celulares além de, com controvérsias, saúde cardiovascular. Os animais (especialmente os peixes gordurosos de águas frias e profundas) são fontes alimentares diretas de EPA e DHA, pois se alimentam de microalgas que os sintetizam ou, secundariamente, de zooplânctons, que se alimentam de algas. O Institute of Medicine (IOM), que propõe as diretrizes nutricionais, tem recomendação diária (DRI) para o ALA, mas não tem pra DHA e EPA devido à capacidade bioquímica humana de os sintetizarem a partir do ALA. 

Existem exaustivos estudos que avaliam a nossa eficiência em converter o ALA em DHA e EPA. Por isso, vemos recomendações menos embasadas de se valorizar o consumo de óleo de peixe, pois, neste caso, entregaríamos diretamente o DHA e EPA sem contar com a maestria do nosso metabolismo bioquímico de fazer essa conversão. Realmente, a conversão desses ácidos graxos não é tão eficiente, visto que pesquisas sugerem que, de todo ALA consumido, convertemos em torno de 5 a 10% em EPA e aproximadamente 2,5% em DHA. Recentes revisões da literatura falam de conversões em torno de 21% para EPA e 9% para o DHA. O que interfere essas taxas de conversões são a idade, sexo, gestação e infância e fatores não- nutricionais como o tabagismo, hipertensão, diabetes e síndrome metabólica que comprovadamente diminuem as taxas de conversões. Em se tratando de indivíduos saudáveis, estudos recentes apresentados pela NIH (National Institutes of Health) sugerem o consumo total de 2 a 3% das calorias diárias provenientes de LA (ácido linoleico) e 1% de ALA, o que é facilmente atingido em uma dieta vegetariana estrita que inclua diariamente sementes como linhaça e chia e algumas oleaginosas como nozes, além de leguminosas. 

– FERRO HEME: Não é um nutriente essencial, a natureza nos oferece de forma abundante o ferro não heme que exerce exatamente as mesmas funções do ferro heme que sim, tem um ponto positivo comparado ao não heme que é o fato dele ser melhor absorvido organismo, porém, temos três pontos a esclarecer sobre isso: a participação do ferro não heme na dieta é mais abundante do que a do ferro heme, é possível aumentar a absorção do ferro não heme através de “manobras” culinárias como o remolho e o cozimento dos grãos fontes de ferro além de se acompanhar as refeições com fontes de vitamina C, como por exemplo, um copo de suco de laranja para que a biodisponibilidade do ferro não heme aumente podendo ser até mais absorvido do que o heme. 

A população vegetariana e vegana não apresenta taxas mais elevadas de deficiência de ferro, embora os estoques de ferro possam ser menores. Na verdade, a ferritina mais baixa pode ser uma vantagem em termos de risco reduzido de câncer e síndrome metabólica além de que o consumo abundante de ferro heme está relacionado com fortes evidências ao aumento de risco cardiovascular. 

 

A Italian Society of Human Nutrition pontua que a biodisponibilidade do ferro não-heme é um pouco menor, o que é muito diferente de não ser absorvido como afirma a matéria, com 5 e 12% de absorção, comparado com 14 e 18% das dietas OMN (onívoras). Mesmo depois de muitos anos com uma dieta ovolactovegetariana (LOV) ou vegana (VEG), os níveis séricos de ferro em adultos geralmente não diferem significativamente dos onívoros. A ingestão média de ferro em homens LOV / VEG pode, de fato, ser maior do que em homens onívoros. Mulheres LOV / VEG também têm uma ingestão de ferro semelhante às onívoras e, após muitos anos em uma dieta vegetariana, seu status de ferro é adequado. As mulheres pré-menopáusicas com VEG e OMN tinham riscos semelhantes de desenvolver anemia ferropriva. 

Estudos em mulheres jovens também mostram que a anemia por deficiência de ferro está presente em níveis semelhantes em LOV e VEG (pelo menos dois anos) e OMN. Assim, a perda de ferro menstrual, em vez da dieta, aparece como a principal causa da anemia por deficiência de ferro. Em mulheres na pós-menopausa, descobriu-se que a ferritina sérica elevada é um fator de risco para doenças cardiovasculares, de modo que as dietas LOV e VEG podem ser protetoras contra essas condições. 

– Vitamina D3: 

 

Existem duas fontes deste nutriente: os alimentos e a exposição da pele aos raios solares. As fontes alimentares são prioritariamente de origem animal, porém, devido à capacidade da síntese dessa vitamina através da pele, este nutriente não é essencial para humanos. 

O principal fator ligado à deficiência desta vitamina é o estilo de vida urbano, que diminui a exposição da pele ao sol, mesmo em países tropicais como o Brasil. A produção da vitamina depende diretamente da área de pele exposta ao sol e do horário de exposição. Raios UVB exercem a estimulação necessária para a produção de vitamina D que ocorre entre 10h e 15h. A ingestão da vitamina D mesmo em populações de países desenvolvidos é muitas vezes insuficiente para a manutenção de níveis adequados da vitamina, sendo que alguns autores consideram inclusive uma epidemia ignorada e um problema de saúde global. Independente da escolha alimentar, é importante a realização de exames com regularidade para a verificação dos níveis de vitamina D. Alguns estudos mostram que a suplementação de vitamina D através da vitamina D2 seria menos potente, porém isto não é limitação para a suplementação visto que veganos podem fazê-la facilmente através de doses mais altas de vitamina D2 ou mesmo através de suplementos de vitamina D3 produzida a partir de líquens. De fato, a resposta à suplementação varia individualmente e seu acompanhamento deve ser realizado por um profissional capaz de adequar a dose de acordo com as necessidades do paciente. 

– Vitamina B12: Não é sintetizada por animais, humanos e não humanos, e nem por vegetais e sim por bactérias presentes no solo e na natureza de modo geral.  É o único nutriente que possivelmente deve ser suplementado em uma dieta vegana nos dias atuais. Nosso distanciamento do solo, hábitos de higienização e vida urbana nos distanciou deste nutriente que, por não fazer parte do metabolismo das plantas, não é absorvido por elas e encontra-se em suas externalidades que são facilmente removidas ao se descascar e limpar os alimentos, neste caso, os alimentos de origem animal servem de “pontes” entre o solo/natureza e nós humanos, uma vez que esses animais costumam consumir os alimentos sem os métodos de higienização que nós humanos praticamos. Mas, temos pontos a ponderar sobre a atenção a esse nutriente na dieta: Um estudo realizado em 2004 avaliou o status das concentrações séricas de ácido fólico e vitamina B12 nas populações da América Latina e constatou deficiência de vitamina B12 em 40% da população. Um estudo similar constatou que, no mundo, 50% dos veganos não suplementados, sofrem de carência de B12. Estar atento aos níveis de vitamina B12 e suplementá-la quando necessário, não é um cuidado e uma recomendação exclusiva aos veganos e sim, de toda a população. 

 

– Vitamina B6: Não existem evidências epidemiológicas de maior incidência de carência das vitaminas do complexo B, exceto a vitamina B12, em veganos comparados ao onívoros.

 

“Já foi constatado que os vegetarianos e veganos apresentam níveis mais baixos de todos os nutrientes listados acima em seus corpos”. Afirmar de forma generalista que TODOS os vegetarianos e veganos possuem níveis mais baixos de tais nutrientes é além de irresponsável, falso. E, mesmo que fosse, ter níveis mais baixos de determinados nutrientes, comparando-se aos encontrados na média populacional, não implica necessariamente na carência dos mesmos e, em se pensando em prevenção de doenças crônicas não transmissíveis, causadas principalmente por excessos, quem sabe o “menos” neste caso não seja “mais”? 

 

Questões do texto sobre crianças com problemas de desenvolvimento neurológico, ingerir o próprio cocô, cérebro “encolhido” e outras apelações não serão comentadas por desmerecimento de causa. 

 

Parafraseando o texto: Mas, afinal, qual é o veredicto?

 

O veredicto é primeiramente saber a quem interessa esse tipo de matéria.

 

Veículos de imprensa, qual o real objetivo por trás de pautas e manchetes frequentes como esta, normalmente em tom sarcástico e alarmista, debochando do veganismo?

 

Apostamos em três linhas de pensamento: 

 

  1. Manchetes sensacionalistas, mesmo que coloquem em xeque a credibilidade do veículo de imprensa que a publica, gera engajamento, compartilhamento e consequentemente mais renda para o veículo que por este motivo prefere o lucro à credibilidade;

  2. Alguém tem interesse em criar dúvidas e insegurança com o objetivo de conter a onda vegana que cresce exponencialmente com o grande despertar de consciência e comprometimento ético, ambiental e de saúde das pessoas e assim ameaça o potente setor agropecuário que fatura trilhões de dólares em todo o mundo vendendo commodities, agrotóxicos, fertilizantes e finalmente carne, leite, ovos e todos os seus derivados.

  3. Total desconhecimento de causa dos jornalistas e redatores de matérias como essas que estão longe de se basear em evidências científicas robustas e principalmente, na ética e respeito ao usar o deboche como forma de expressar a própria insegurança que o desconhecimento de causa gera.

 

O veredicto talvez seja consultar fontes confiáveis e de lastro científico para obter a resposta correta. Suposições, “eu acho que”, “na minha opinião” não são ciência.

 

Afirmar que o veganismo por si só é causador de carências nutricionais é suposição e não ciência. Dietas desequilibradas, independente do modelo alimentar seguido, podem causar deficiências nutricionais.

 

Onívoros que seguem o modelo alimentar “tradicional” baseado em alimentos de origem animal e refinados / processados não são contestados quanto às possíveis carências nutricionais e suas possíveis consequências. 

 

A carência crônica de micronutrientes ofertados pela dieta é fato comum e comprovado na população em geral que não necessariamente é vegetariana e, pelo contrário, está mais diretamente relacionada a indivíduos com quadro de sobrepeso e obesidade que, por sua vez, está diretamente ligado à prática de um modelo alimentar baseado em alimentos refinados e processados, fontes de gorduras e açúcares em excesso

Publicado em 2011, o estudo Antioxidant intake among Brazilian Adults – The Brazilian Osteoporosis Study (BRAZOS): a cross-sectional study avaliou, através de recordatório alimentar, o consumo das vitaminas A, C e E, além dos minerais zinco e selênio de 2.344 indivíduos habitantes de 150 cidades brasileiras. Ao se comparara ingesta de tais nutrientes e as recomendações dietéticas vigentes (DRIs), os resultados demonstraram que grande proporção da população brasileira consome tais nutrientes na quantidade abaixo do recomendado nas DRIs como, por exemplo, vitamina E (99,7% abaixo do recomendado), vitamina A (92,4% abaixo do recomendado) e vitamina C (85,1% abaixo do recomendado). 

As deficiências marginais de micronutrientes estão largamente presentes em toda a população e não é uma exclusividade de vegetarianos e veganos. 

A dieta vegetariana planejada (assim como toda dieta deve ser) propõe ao indivíduo que a pratica, um abundante aporte de vitaminas, minerais, ácidos graxos essenciais, fibras e compostos bioativos – esses últimos, quase que em sua totalidade, estão exclusivamente presentes em vegetais. 

E vamos além:

Vivemos uma pandemia de obesidade e doenças crônicas, tendo como maior causa de morte no mundo as doenças cardiovasculares (44% das mortes no mundo segundo a ONU). Os números de casos de câncer crescem exponencialmente ano a ano. 

Estamos vivendo uma pandemia causada pela disseminação de um vírus que, assim como a maioria das pandemias anteriores que ameaçou e continua ameaçando a vida humana no planeta, tem como principal causa o confinamento intensivo de animais na pecuária e o hábito tradicional de algumas culturas de se alimentarem de animais silvestres. 

Estamos no “cheque especial” com o planeta, a humanidade hoje utiliza mais recursos naturais do que a Terra pode regenerar para manter o estilo de vida e alimentação atual. 

Segundo o relatório EAT- LACET publicado em 2019 em parceria com a Faculdade de Saúde Pública de Harvard, A The Lancet Commission,  estima-se que as mudanças nas práticas de produção de alimentos podem ajudar a reduzir as emissões agrícolas de gases de efeito estufa em 2050 em cerca de 10%, enquanto o aumento do consumo de dietas vegetais pode reduzir as emissões em até 80%. 

 

A pecuária e a aquicultura são responsáveis ​​por 56 a 58% da emissão dos gases de efeito estufa (GEE) do sistema alimentar global e usam 83% das terras agrícolas, e contribuem com apenas 18% de calorias e 37% de proteínas para alimentação humana.

Propor à população um modelo alimentar de menor densidade calórica, baixa ingesta de gorduras saturadas, maior densidade nutritiva e rico em fibras é, sem dúvidas, propor maior proteção, qualidade de vida e longevidade à população. 

Com base em dados epidemiológicos, morremos mais atualmente pelos excessos causados pelo alto consumo de gorduras saturadas, colesterol poluentes orgânicos persistentes (POPs) e excesso de alimentos refinados com baixa qualidade nutricional e a carência crônica de nutrientes facilmente encontrados nos vegetais que, por sua vez, estão cada vez menos presentes nos pratos da população humana geral que não consome nem 2 das 5 porções diárias de frutas, verduras e legumes recomendadas pela FAO e OMS e não bate também a quantidade diária de fibras recomendada, do que por doenças ou disfunções fisiológicas, metabólicas e neurológicas causadas pela possível carência dos nutrientes citados na matéria. 

Profissionais de saúde e pesquisadores de peso com reconhecimento mundial hoje são não somente praticantes de dietas a base de plantas, ou veganas, como também promotores desse tipo de dieta para a reversão de problemas crônicos de saúde. Proponho entrevistá-los e questionando-os quanto à segurança e os benefícios do veganismo para a saúde, publicando as entrevistas, que tal? Algumas sugestões; 

  • Dr. Neal Barnard, presidente do Physicians Committee for Responsible Medicine. 

  • Dr. Michael Greger, Fundador do Nutritionfacts.org.

  • Dr. T. Colin Campbell, fundador do Center for Nutrition Studies e autor do maior estudo epidemiológico sobre o impacto na saúde da alimentação moderna, o famoso The China Study.

  • Dr. Kim Allan Willians, ex- presidente do American College of Cardiology. 

  • Dr. Dean Ornish, criador do centro de reabilitação Ornish Lifestyle Medicine. 

  • Dra. Brenda Davis, nutricionista e autora de vários livros de nutrição Plant based. 

 

E para finalizar, não poderíamos deixar de incitar à lógica do raciocínio pragmático do uso da inteligência. 

 

O quanto vale questionar o nível de intelectualidade de indivíduos que seguem modelos alimentares diferentes se, ao final, essa tal inteligência não for utilizada para o bem de todos?

 

Está longe de ser inteligente mantermos hábitos que ameaçam a nossa própria vida. Usar os recursos naturais do planeta para alimentar animais de cativeiro que são industrialmente criados e abatidos em escala estratosférica, o último número da pecuária é da ordem de 70 bilhões de animais terrestres abatidos ao ano (não contamos aqui os aquáticos) para alimentar 7 bilhões de humanos que somos, reduzindo nossas florestas e biomas ainda íntegros, poluindo e desertificando o solo, a água e o ar como se pudéssemos viver sem eles para “alimentar” as chamadas doenças do estilo de vida que encurtam ano a ano nossas próprias vidas que para a maioria importa e vale mais do que a vida te todos os outros seres manipulados de forma cruel e prepotente para mantermos os tais “hábitos normais”. Se a inteligência serve para que ajamos assim, talvez seja a hora de usarmos mais a intuição do que a intelectualidade então. 

 

 E como a matéria em questão foi finalizada, voltamos à Gandhi: 

 

“(…) quanto à Gandhi que também experimentou o veganismo, mas depois de um episódio de disenteria que praticamente o reduziu a um esqueleto vivo, ele chegou à conclusão de que os laticínios eram necessários para uma pessoa ser saudável. 

Seja qual for a verdade, já está na hora de descobrirmos.”

 

Provavelmente, quem escreveu a história de Gandhi, deve ter se enganado ou talvez de lá para cá as coisas mudaram, pois a maioria dos seres humanos, como outros mamíferos, gradualmente perde a enzima intestinal lactase após a infância e, com ela, a capacidade de digerir lactose, que é a principal forma de açúcar no leite. Cerca de 75% da população humana adulta do mundo é intolerante à lactose dietética ingerida. Outra questão quanto ao consumo de leite, é a alergia ao leite de vaca (CMA). Em 1-3%, CMA é a forma mais comum de alergia alimentar em bebês e crianças, e é o resultado de uma reação imunológica a certas proteínas no leite de vaca, particularmente β-lactoglobulina e caseína, que podem causar reações imediatas de hipersensibilidade. Contaminantes químicos no leite e produtos lácteos, como antibióticos, hormônios e pesticidas, também devem ser levados em consideração ao se afirmar que o leite e seus derivados são importantes e necessários “para uma pessoa ser saudável”.

 

Quem sabe Gandhi não tenha tido disenteria por desgosto.

 

Texto elaborado pela nutricionista Alessandra Luglio 

CRN 3 6893 Coordenadora do Departamento de Saúde e Nutrição da SVB.

Referências:

 

Aleksandrowicz L, Green R, Joy EJ, Smith P, Haines A. The impacts of dietary change on greenhouse gas emissions, land use, water use, and health: a systematic review. PLoS One.v. 11: e0165797. 2016.

 

Appel LJ, Sacks FM, Carey VJ, et al. Effects of protein, monounsaturated fat, and carbohydrate intake on blood pressure and serum lipids: results of the OmniHeart randomized trial. JAMA. V.294, p.2455–64. 2005.

 

Barnosky AD, Hadly EA, Bascompte J, et al. Approaching a state shift in Earth’s biosphere. Nature. V.486, p. 52–58. 2012.

 

Blanco G, et al. Climate change 2014 synthesis report. Intergovernmental Panel on Climate Change. Fifth Assessment. Approved Summary for Policymakers. Novembro. 2014.

 

Butchart SHM, Walpole M, Collen B, et al. Global biodiversity: indicators of recent declines. Science. V.328, p. 1164–68. 2010.

Budhathoki, et al. Animal and Plant Protein Intake and Mortality. JAMA Internal Medicine, 2019.

FAO. Sustainable Diets and Biodiversity: Directions and solutions for policy, research and action. 2012

Guasch-Ferré, et al. Meta-Analysis of Randomized Controlled Trials of Red Meat Consumption in Comparison With Various Comparison Diets on Cardiovascular Risk Factors. AHA Journals, 2019. 

Hallstrom E, Carlsson-Kanyama A, Borjesson P. Environmental impact of dietary change: a systematic review. J Clean Prod. V.91, p.1–11. 2015.

 

Orlich MJ, et al. Vegetarian dietary patterns and mortality in Adventist Health Study 2. JAMA Intern Med v. 173, p.1230–1238. 2013.

Peters CJ, Picardy J, Darrouzet-Nardi AF, Wilkins JL, Griffin TS, Fick GW. Carrying capacity of US agricultural land: ten diet scenarios. Elem Sci Anth. V.4, p. 000116. 2016.

 

Popp A, et al. Food consumption, diet shifts and associated non-CO2 greenhouse gases from agricultural production. Glob Environ Chang v.20, p.451–462. 2010.

 

Willett, W. et al. Food in the Anthropocene: the EAT–Lancet Commission on healthy diets from sustainable food systems. Janeiro. The Lancet Commissions. S0140-6736(18)31788-4 2019.

 

American Dietetic Association. Position of the Dietetic Association: Vegetarian Diets. J Am Dietetic Assoc. 2016; v. 116; issue 12: 1970-80. Disponível em: https://jandonline.org/article/S2212-2672(16)31192-3/pdf

 

DINU, Monica et al. Vegetarian, vegan diets and multiple health outcomes: A systematic review with meta-analysis of observational studies. Critical Reviews In Food Science And Nutrition, [s.l.], v. 57, n. 17, p.3640-3649, 6 fev. 2016. Informa UK Limited. http://dx.doi.org/10.1080/10408398.2016.1138447.

OLRICH, M.J., & FRASER, G.E. Vegetarian diets in the Adventist Health Study 2: a review of initial published findings. The American Journal of Clinical Nutrition; 100(1), 353S–358S, 2014.

 

Allen L.H., Folate and vitamin B12 status in the Americas, Nutr Rev, 2004. 62 (6 Pt 2): pp. S29-33; discussion S34. 

 

Resposta à matéria: https://www.bbc.com/portuguese/vert-fut-54516595

Posts relacionados